Hidrogel se tornou uma palavra conhecida por muitas pessoas de fora da área médica, graças à apresentadora e modelo Andressa Urach.
Desde a última semana, ela está internada em São Paulo, devido a uma inflamação na nádega esquerda, provocada pela aplicação excessiva da substância.
Em novembro de 2014, a artista quase morreu, também em decorrência de infecção provocada pelo abuso de hidrogel nas pernas, injetado em 2005. O produto é constituído de 98% de soro fisiológico e 2% de poliamida, e usado para preencher rugas, além de fazer crescer partes do corpo onde é aplicado, como glúteos e pernas. Ela é apenas um dos vários exemplos de pessoas que levaram ao extremo a necessidade de ficar de bem com o espelho.
Mas por que correr tantos riscos?
Para o cirurgião plástico Marco Cassol, nem todos os casos são explicados pela simples vontade de melhorar a estética. Muitas vezes, o excesso de procedimentos médicos a pedido do paciente esconde um transtorno psiquiátrico chamado Síndrome Dismórfica.
Quem possui esse quadro nunca está plenamente satisfeito com a própria imagem e, por isso, apela para inúmeras intervenções cirúrgicas. “São pessoas angustiadas que buscam mais e mais, e, muitas vezes, encontram um profissional que cai na bizarrice”, afirma. De acordo com o especialista, pacientes assim enxergam no espelho algo diferente de sua real imagem, são frágeis emocionalmente.
Cassol conta que, muitas vezes, já apareceram pessoas no consultório empunhando fotos de pessoas famosas e dizendo “quero ficar igual a ele/ela”. Os casos mais famosos, que por vezes surgem na imprensa, são as Barbie’s e Ken’s humanos, pessoas cujo sonho é ficar idênticas aos personagens.
Enquanto a maior parte das pessoas “normais” ganha autoestima com uma cirurgia plástica, aqueles que sofrem desse problema continuam infelizes com sua imagem, desejando ser outro. Para o médico, é dever do especialista impor os limites necessários para que o paciente fique bem e não cometa exageros.
Ao perceber estar diante dessa situação, o cirurgião deve recusar a realização da operação e encaminhar o paciente a um psiquiatra. Esse limite é importante para não apenas poupar vidas, como também para ajudar o indivíduo a perceber e aceitar a si mesmo.
O ideal, para ele, é que a cirurgia plástica melhore o que precisa ser melhorado sem que as pessoas percebam que ali houve uma intervenção. Quanto mais natural, melhor o resultado. “Aí está a arte da cirurgia plástica”, diz.